terça-feira, 15 de setembro de 2009

Pousada Zé Lau – setembro de 2009.

Pousada Zé Lau – setembro de 2009.

Lugares têm alma!
Porque acontece que às vezes, em certos ambientes, nos sentimos incomodados como se estivessemos sendo observados, controlados por alguem ou algo que não sabemos o que é? Existem lugares que são amigáveis, outros que nos trazem desconfortos ou mesmo que nos agridem.
Se sentir observado ou mesmo ameaçado é típico de ambientes urbanos, onde por todos os lados, existe a possibilidade de surgir alguém, até mesmo alguém que jamais gostaríamos de ver à nossa frente, como um assaltante no sinaleiro! Ambientes urbanos são "não-lugares", lugares sem alma, onde não se planta raizes.

A distância que nos separa de Minas ajuda-nos a nos aclimatar, por entre montanhas e vales, até atingirmos aquele estado (de espírito) das pessoas que por lá vivem. Quando descemos de nossos carros, em Guapé, nossas mentes já se encontram adaptadas à calmaria de uma cidade de interior com suas gentes pacatas e tranqüilas. Para nós, que viemos daquelas terras, é muito fácil nos integrarmos rápido ao ambiente e ao ritmo locais.

Alguns lugares são verdadeiros refúgios e a Pousada Zé Lau também pode se tornar um. Mas o que entendo por refúgio, senão o lugar onde chegamos, nos desfazemos de nossas coisas e logo nos integramos ao ambiente, simples, austero mas tão acolhedor, o desconforto não incomoda e a simplicidade do lugar é atraente. Quem busca um refúgio quer segurança, quer liberdade, quer espaço, quer brisa fresca, quer barulho de cachoeira, quer se embebedar de verde, pisar em folhas secas, debaixo de arvores, quer subir na mangueira ou então tirar um cochilo à sua sombra: tudo que a Pousada Zé Lau tem a nos oferecer.

Por volta de 1800 aparecia em Guapé, no lombo de um burro, um tal de Francisco Avelino de Avila. Ninguém sabia ao certo de onde vinha e menos ainda o que pretendia. Jovem ainda, depois de algum tempo se “engraçou” com a filha de criação do “dono do pedaço”, capitão José Bernardes, que morava em uma belíssima casa a meia distância entre a Jacutinga e o Guapé. Foi a esposa dele quem doou o terreno para construir a antiga igreja matriz do Guapé. O dote da enteada eram alguns milhares (ou dezenas de milhares) de alqueires de terra que iam da Jacutinga até as barrancas do Rio Grande, descendo pelo Buracão, o Pontal inteirinho, passando perto dos Penas, Posses e chegando novamente à Jacutinga. Não demorou muito nascia o José Avelino de Avila que também se casou e da união nasceu o Wenceslau. Isto foi em 1860! No tempo de Dom Pedro Segundo, quando não existia cesariana, nem anestesia e nem antibiótico. As mulheres morriam no parto, a pneumonia matava todos que eram acometidos dessa doença e os poetas românticos franceses morriam jovem, porque era “bacana” ou melhor era romântico, na época. Quase sempre de tuberculose – a bohemia os levava à isso.

Em 1860 nascia então o Wenceslau Avelino de Avila, o mesmo que em 1949 me carregou nos braços e que, sozinho, no lombo de um cavalo, saiu do Mundo Novo e veio até Os Rodrigues para ver se não estavam deixando o Lauzinho passar frio, era agosto. Ele tinha 89 anos! Baixinho de olhos claros e espertos, ele veio a falecer menos de um ano depois, numa madrugada fria, na cidade de Guapé.

A pousada Zé Lau é um “pedaciquito” do que foi o dote que conquistou o coração e os olhos, de Francisco Avelino de Avila, o forasteiro que veio de muito longe. Nunca saiu da Familia Avila. Realmente os lugares têm alma porque são palcos de histórias. Aquela mangueira é um testemunho vivo de grande parte dessa história. Alguém conseguiria descobrir quando ela foi plantada? Fica a incumbência para as novas gerações.

Enquanto isso, cabe a todos nós, conservar, zelar, manter e melhorar aquilo que sempre foi nosso, muito, mas muito antes mesmo de nosso nascimento!

Para saber mais sobre a cidade de Guapé veja em:
http://www.mgquilombo.com.br/turismo/guape/

Law

5 comentários:

Unknown disse...

pergunto como quem nasceu em 1960,pode carregar nosd braços alguém em 1949?

W. AVILA disse...

Prezada Leila, bom dia
Agradeço pela gentileza da visita e pela leitura atenta. Acabei de corrigir o erro grosseiro, uma vez que atrasei em apenas 100 anos o nascimento de meu avô. Portanto leia 1860 onde foi escrito 1960.
Será sempre uma alegria acolhê-la em nosso blog.
Um cordial abraço
W. Avila

W. AVILA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Mana disse...

tio belíssimo texto!
sempre escreva mais..
é mt legal saber de tudo isso!! e imgano qnts historias ainda têm...
bjss
parabens pelo blog..

Unknown disse...

Bom, na verdade talvez por falta de interesse nunca tenho tirado um tempo para dar uma boa lida nos textos do blog, e hoje pude perceber que é a melhor coisa que se tem a fazer, não só por serem textos bonitos, mas principalmente e exclusivamente por serem histórias de quem nos deu a vida atraves de várias gerações. Parabéns pelo blog tio!