sábado, 28 de dezembro de 2013

A Felicidade mora aqui

Cheiro de Mato, gosto de água limpa, sabor de carne de porco com mandioca ou de frango caipira com quiabo e aromas que surgem do forno de cupim, assando pão de queijo e bolo de fubá...debaixo da mangueira centenária... .
 

O CLIP

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

CONSUELA 1961 - 2013!

Foi 15 minutos antes de terminar a sexta-feira que nossa irmã nos disse ADEUS, na cidade onde morava -ITAU MG. Neste domingo fiz uma carta para minha sobrinha. Ela está transcrita abaixo. Antes uma observação: nossa irmã era tão dedicada, prática e organizada que parece ter esperado chegar o final de semana para que, quem viesse à sua despedida, não prejudicasse o seu trabalho.


 Carta a uma sobrinha enlutada.

 Domingo, 10 de novembro de 2013.

 Querida sobrinha,

 Nunca uma palavra disse tanto! Aquele ”infelizmente” sussurrado, do outro lado do fio, bastou para seu mundo desabasse e o choro incontido abafasse tudo em volta. Um simples advérbio esclareceu um ano de dúvidas. Cinco por cento de chances de sobrevivência bastam para manter a esperança – afinal sempre nos incluiremos nestes 5% possíveis e não nos 95 improváveis. 

Claro, o caso era grave, mas se existem 5% de chances - é neles que nos incluímos. A lucidez perfeita, de nossa irmã, reforçava esta convicção. Mas infelizmente aquele “infelizmente”, como um raio, tornou claro tudo que ainda restava de obscuro em sua mente e gravou a palavra morte em seu jovem coração. Precisa que haja morte para cessar definitivamente as esperanças. 

 No instante seguinte sobe uma revolta: que mundo injusto! As longas horas passadas a contemplar aquele rosto tão familiar, inerte, com a calma da eternidade, deu o tempo que você não teve até então, pra repassar as suas lembranças, reviver seus últimos meses, recordar os fatos. 

 Você pôde ouvir seu pai, ouvir sua irmã, e todas as palavras de conforto dos amigos presentes. Você não aceita ainda, ninguém aceita, mas o mundo precisa continuar, ainda que ele tenha ficado menor, muito menor, pra vocês três. 

Você vai precisar muito, querida sobrinha, da força daquele abraço único para as próximas etapas. Seja quando ver-se só, seja ao percorrer as lembranças da mãe protetora, exigente, carinhosa, chorosa e que conforta. A tristeza pode baixar, o sofrimento da perda, voltar a aflorar e o isolamento parecer ser a solução. Saber disso será sua melhor arma.

 Mas o mundo é tão bem feito, por aquele SER superior que o criou, que vai chegar um dia em que você mesma concluirá que ele precisa de você, que as pessoas precisam de você, forte, corajosa e dedicada exatamente como foi sua mãe, a minha irmã. 

Dirigindo-me a você, nesta carta, quero homenagear seu pai, meu cunhado, e sua irmã, minha sobrinha, em condições iguais. 

Vê-los juntos e tão unidos nos últimos minutos da “presença” de sua mãe entre nós, foi de cortar o coração e também de grande esperança de que vocês, unidos por essa mesma força, irão superar a perda e honrar com dignidade a memória da Consuela, minha querida irmã.

 Um beijo para as minhas sobrinhas e um abraço para o meu cunhado.

domingo, 22 de setembro de 2013

HOMENAGEM QUE FAZ BEM AO EGO E AO CORAÇÃO!

Dr. Walquires Tibúrcio é um grande guapeense, desses que honram a família, a cidade e o país onde nasceram. Filho de Guapé, recentemente autografou seu livro de crônicas/memórias sobre a sua terra.
Uma gratíssima surpresa, ao receber seu telefonema na ultima semana, me informando que iria me enviar um exemplar, com dedicatória, de sua mais recente obra. 
Com o seu conhecimento (dele) transcrevi abaixo parte da mensagem confirmando o envio, primeiro porque é uma oportunidade para você, um Avila, ter a oportunidade de por exemplo adquirir o referido livro, que inclusive tem seus valores repassados à APAE de Guapé e segundo porque, no segundo parágrafo abaixo ele homenageia, de maneira muito elogiosa e generosa o nosso patriarca, Zé Lau.
Como ele(meu pai) ficaria lisongeado se estivesse aqui para ler essas linhas tão edificantes!

Segue o texto

Wenceslau, boa noite. Postei hoje o livro endereçado a você.Espero que leia até o fim pois é sabido que de  livro ruim  só se lê as primeiras páginas. Voce verá que é um modesto  trabalho, sem pretensão literária  ou de se fazer história de nossa terra.  Em  “ Dois dedos de Prosa” explico a singeleza do que pretendi fazer: “ Comecei a passar para o papel um e outro fato da vida da cidade para que os mesmos não caíssem no esquecimento. Fui retratando os tipos populares que povoaram  a minha infância, escrevendo os casos que a oralidade faz circular e que se não registrados vão se perder no tempo. Ficarei muito feliz se essas despretenciosas páginas servirem ao menos para evocar a saudade dos guapeenses para as suas coisas e sua gente e para que a nossa terra não seja “apenas um retrato na parede.”
  Li  ( reli) as memórias de seu pai. Já havia lido há muito tempo, só que agora a leitura foi mais atenta, e mais compreensível dado as intervenções explicativas feitas no texto. Que documento valioso. Impressionante pela riqueza de detalhes, pelas minúcias e sobretudo pela extraordinária  memória de seu pai. É sabido que quase sempre na velhice as pessoa vão perdendo a memória recente mas conservam intata a memória remota. No seu diário isso não ocorre, são lembrados com absoluta nitidez tanto os fatos longevos como os mais recentes. Quando fala dos primórdios de Guapé, de sua fundação, elencando fatos de 1723, ele afirma: “ Tudo que escrevi é tirado do livro antigo de meu avô.” Que livro seria esse ? Será o “Guapé-Reminiscencias” de Passos Maia ?

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

sábado, 10 de agosto de 2013

Guapé, uma viagem! Uma VIAGEM?


De Guapé, nunca se volta igual e é por isso que vamos retornar sempre lá. Não são todos que dispõem de um lugar para se refugiarem. Os nascidos no asfalto e sem uma origem no interior, sentem falta de uma terra onde buscar suas raízes. Nós, Avila, inclusive as gerações mais novas, temos o privilégio de poder buscar, nem sempre um conforto, mas com certeza muita segurança e um “não sei o quê” de paz, por aqueles lados. 
Todos nós que, direta ou indiretamente, saímos de lá, sabemos que, nos aventurarmos por outras paisagens, por outros cenários, implica em algum risco, espontaneamente ou não, um dia termos que voltar.
Por aqui, no grande centro, avançamos com muito mais ousadia quando sabemos que se algum dia, tudo, absolutamente tudo der errado, como para o soldado no campo de batalha poderemos bater em uma retirada estratégica e, junto de nossas raízes, recarregar as baterias, recomeçar uma nova jornada ou até mesmo refazer nossas vidas. Para isso é fundamental dispor daquele pedaço de chão, por menor que seja, até mesmo para honrar a memória de nosso patriarca, que julgava ser a única segurança (absoluta), em qualquer circunstância.
Ir a Guapé é, portanto mais do que uma viagem, é a VIAGEM. É lá que expomos as nossas fragilidades, seja nas discussões acaloradas, seja nas reclamações justificadas ou não. Não importa o que tenhamos aprendido por aqui, nos grandes centros do saber,  nem o quanto tenhamos progredido na vida ou mesmo o quanto tenhamos nos tornado importantes. Uma vez em Guapé, quanto tudo se junta, tudo se nivela, e as emoções, as alegrias, os rancores, os desabafos vêm à tona, com a energia do vulcão ou a potência do terremoto (mais atual).
Guapé – a vida como ela é: dolorosa, alegre, cheia de energia, colorida, enrustida, de peito aberto, sorridente, triste, estressante, romântica, sombria, mas sempre vibrante!  
Voltar pra casa é sempre bom, mas fica melhor ainda quando antes se esteve em Guapé, de onde as histórias voltam mais recheadas de emoção, de lembranças e de saudades, porque Guapé não é só um lugar, mas um contexto. De Guapé nunca se perde a viagem e por isso mesmo é a VIAGEM.
Law


sábado, 27 de abril de 2013

DIA DAS MÃES - 2013!


((no próximo dia das mães estarei muito longe - aqui fica desde já minha homenagem))
Mamãe

De repente o telefone, e do outro lado a notícia: o nosso pai não anda bem. Comeu uma feijoada (muito) e não lhe fez bem. Dá até uma vontade de rir: é claro que uma feijoada não pode fazer bem, para alguém com mais de 80 anos, ainda mais sabendo o apetite que ele tem!
Parece, à primeira vista, as estripulias de alguém, de bem com a vida, mas que exagerou na dose. E, é!
As noticias continuaram, menos freqüentes e nem sempre boas. Até que chegou algo mais concreto: ele foi internado! Teve que ir pra outra cidade. Então é mais sério. Três meses depois ele não estava mais, entre nós. Alguns não o viram sequer umas três vezes nesse período. Eu tive a graça, uma espécie de intuição que não se explica, de ter ido vê-lo quase todos os meses naquele ano. Nunca havia sido tanto e nunca conversei, saí com ele tantas vezes (Mundo Novo, Santa Maria, estrada do Santa Maria).
Apesar de naquele momento não reinar nada, já estava me preparando para a grande despedida. Naquelas conversas repassamos inúmeras passagens aventureiras e quase catastróficas, como aquela em que um temporal nos surpreendeu, em uma cava fechada, em algum lugar, quase chegando no Mundo Novo e muito tarde da noite tivemos que abandonar tudo, nos recolher na casa de alguém e só voltar no dia seguinte para ver e consertar a situação! É claro que ele falava com orgulho de tudo aquilo.
Dez anos depois as coisas são muito diferentes.
Nossa mãe está aqui, forte fisicamente, com muita energia, quando caminha tem-se dificuldade em acompanhá-la, mas a cabeça...! Sim na cabeça, parece existir um enorme vazio ou melhor, uma fábrica poderosa de invenções e criações de uma outra realidade, de uma realidade que nos ultrapassa, que vai além da nossa compreensão.
Hoje é um acidente, ela fala da queda de um cavalo, em uma estrada que deixou de existir há 50 anos,  ou um medo de alguém, que sobre ela não tem a menor autoridade, isto há mais de 60 anos(o seu pai). Mas ela menciona como se tivesse acabado de acontecer.
O que afinal aconteceu com o tempo? -Parece não existir nem antes e nem depois.
Eu queria no fundo falar com ela (todos nós queremos, tenho certeza) sobre coisas simples, de agora, do seu dia a dia e não de memórias que nem conheço. Porquê? -Porque a memória esqueceu do que ela acabou de falar, do nome de uma filha que está à sua frente ou do meu filho, que ela acabou de ver? Mais do que o irmão dela, que ainda quase criança, acabou de cair e se machucar ou do seu mal estar, com a mãe dela, gostaria muito mais que ela trouxesse o que aconteceu com ela no ano passado, quando me visitou em minha casa ou que me falasse de coisas  que tenham a ver com ela e comigo, como quando eu ainda era pequeno.
Não, tudo isso ficou apagado. Por mais que eu tente, ela não consegue ligar o presente com o que ela viveu. Existe um vazio, uma interrupção, uma lacuna que ela não consegue transpor. Que parte de seu cérebro está interrompida? Não teria como ir lá, ligar as pontas, mesmo correndo o risco de apagar aquilo que está lá longe, lá no inicio.
Melhor seria se ela pudesse gravar os seus últimos tempos, tudo aquilo que faz parte da nossa história comum. O resto, sei que é importante pra ela, mas não faz muito mais parte de nós.
Hoje, por exemplo, ela fala de um acidente: o cavalo caiu, ela se machucou, nada muito grave, mas teme que sua mãe fique brava com ela ou que o nosso pai brigue com ela. E se tudo isso, na sua cabeça, for verdade! Mas é verdade! Como deve ser o seu sofrimento vivenciando tudo isso! Uma quase tragicomédia composta de fatos graves, sérios, difíceis, duros de suportar, o sorriso do início pode acabar em lágrimas: basta uma concentração maior e profunda nos fatos que estão sendo relatados. A pergunta que se faz é: até que ponto tudo isto está na sua imaginação apenas, não fazendo parte da sua realidade, de sua vida? Na hipótese de ela, acreditar piamente, internamente pode estar apavorada, destruída! Como saber, distinguir uma situação da outra?
O fato em si importa menos do que o que ele representa na sua mente. O que ela credita é mais sério do que o que de fato existe, se é que existe algo.
Assim, se por um lado ficamos felizes em saber que é pura fantasia, de outro nos entristece, em ver que ela vive tudo aquilo como real.  Tudo isto nos deixa tristes, com pena, quase revoltados por não poder oferecer nada que venha aliviar este drama, amenizar este sofrimento.
Ainda que nada de grave esteja acontecendo, saber que na sua mente isto é fato, concreto, faz doer. Cabe aqui se perguntar: porquê? A que deuses podem servir esses sofrimentos?
Por outro lado, porque esta necessidade incessante de ir para uma outra casa que não existe, que ela mesma nunca acha? Não poder acalentar esse seu desejo é uma dor que não cessa, uma ferida que não cicatriza, um chamado nunca atendido, um pedido sempre recusado. Quando o nosso maior prazer é atender tudo que ela anseia, depois de tudo que ela já fez por todos nós.
 Ate que ponto isto afeta o seu entendimento das coisas? Nunca vamos saber, não tem como perguntar? Ela jamais entenderia a pergunta. É muito complexo para o seu entendimento.
A linha do tempo pra ela, emaranhou-se de tal modo, como se não houvesse mais, nem antes, nem depois, passado ou futuro. Os tempos se confundem, assim como se confunde a sua visão da realidade ou das coisas que estão à sua volta.
O que está ali é nossa mãe, está tão igual ao que sempre foi, mas o que realmente nos liga a ela, aquilo que faz com que ela seja ela mesma pra todos nós, parece ter ido embora. A lembrança na sua mente, que faz de cada um de nós filhos, netos, bisnetos, foi apagada, extinta. Ali tem um corpo, que ainda ri, se alimenta, anda, mas que não reflete o brilho de mãe, de avó, que consiga diferenciar as pessoas umas das outras. Um corpo sem memória, sem passado e sem lembranças. Na maioria do tempo só lhe restam lembranças que não são as nossas lembranças. Pra que serve? – Resta um consolo: imaginar que possa servir para o seu conforto, para a sua tranqüilidade de espírito. No momento é o que mais importa.
Aqui uma raríssima oportunidade se nos apresenta para poder ajudá-la: estarmos lá, como ouvintes atenciosos e solícitos de suas histórias, muitas que são só dela, da sua imaginação e que ela precisa, desesperadamente, passar adiante, comunicar, partilhar.
Para isso precisamos estar presentes.
Bom final de semana