terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Livro do Papai - Transcrição - 2a. Parte -dez08

Continuação da Saga ...Fatos pitorescos, atos de coragem, brigas de irmãos, histórias de pessoas conhecidas...heróis de outrora...naquela época também se vivia perigosamente!!! Conservei algumas palavras cuja grafia era correta na época (elle, della, pae etc).
O primeiro Filho ...
Lá onde o Lau nasceu em um de junho de 1949. No mesmo dia eu fui avisar o Antonio Evaristo, elles estavam incomodados. “Você vai com o Zé Lau, elle disse (para a vovó Raquel), tem que deixar o Tonho, mas elle resolveu ir. Tinha no curral uns 20 animais, mas não tinha um que servisse para ir. Eu falei: meu cavalo é manso, pode ir nelle. Me deram uma égua pra eu ir. Pensei: esta mulher vai ficar lá em casa uns 15 dias. Mas não, ela chegou a tarde, pousou, no outro dia ella fez o almoço e me falou, agora você me leva em casa, o Tonho ficou sozinho. Eu fui levar ella, minha mãe e a Oscarina Aguiar ficaram com a Aparecida. Minha mãe ficou com ella até ella poder trabalhar. Eu sempre trabalhava. No dia dezesseis de novembro do mesmo ano eu mudei para minha fazendinha. No carro de boi, subia a serra do Retiro. Aparecida a cavalo carregando o Lau na cabeça do arreio. Chegando lá o Antonio Martins estava morando na casa. Mandei ele mudar para a casa de despejo. Quando fez três dias que nós tínhamos mudado, chegou meu pai: foi ver se nós estávamos cobrindo ele(o Lau) direitinho. Elle ficou alguns dias, me ajudou a fazer uma cerca de arame no pastinho dos bezerros. Elle já estava com oitenta e nove anos, dois meses e vinte oito dias. Fui fazer a casa do Antonio Martins. Elle mudou pra casa delle e tomava conta das vacas. Tirava leite, os meninos delle pousavam lá em casa. Eu voltei a trabalhar no Mundo Novo, cuidava dos cafés, quando em janeiro de 1950 meu pai ficou doente. Chamou o Dr. Coelho em Guapé. Foi ele e Chiquinho Ávila, farmacêutico, foi de cavalo. Não tinha linha e a estrada era ruim. O Dr. Coelho falou: tem que levar pra Guapé. Amarrados dois paus na caminha e levaram ele carregado por 4 pessoas. Nó saímos com elle domingo de madrugada. Não precisou chamar ninguém: o pessoal, quase todo o Mundo Novo acompanhou elle. Foi o último favor que elle recebeu do Mundo Novo. Nós agradecemos. Foi o Dr. Coelho, o Chiquinho encontrar com elle. Se encontraram no Angola, perto da Jacutinga. Aplicou uma injeção nelle e acompanhou também. Continuou examinando ele. Minha mãe seguiu a pé, muito incomodada com medo delee não agüentar até o Guapé. Ao chegar em Guapé teve uma melhora.
A Morte de Wenceslau Avelino de Ávila ( vovô) (1860 – +1950)
Na semana seguinte ele falou que queria fazer a doação para nós e pediu para a gente tomar as providencias. Entregamos para o Dr. Fonseca fazer os papeis; tudo muito enrolado. A segunda família não tinha quase nada, era tudo da 1ª. família. O Dr. Fonseca deu a idéia: vocês compram as partes, tudo da 1ª. família. Já tinha morrido duas filhas, Maria Bárbara e Olímpia. Aí compramos as partes da 1ª. família. Pagamos 15 contos para cada parte. Os que tinham morrido, tiveram divididos os 15 contos com a família. A parte da Julieta foi paga por 30 contos porque ela tinha a parte do meu pai e da minha mãe. Meu pai..(ilegível)..mas o Dr. Fonseca apressou a escritura. Na passagem da noite do dezesseis para o dezessete o Dr. Fonseca sentou-se de um lado da mesa, ditou a escritura e o escrivão foi anotando. O Itamar passou a escritura das compras que nos tínhamos feito. Meu pai assinou a escritura as duas da madrugada, “lumiou” com a lanterna para ele poder assinar. Os que tinha (bens) assinaram a venda para que tudo fosse terminado de madrugada. Quando foi as duas horas da tarde meu pai morreu. Foi no dia dezessete de março de 1950. Minha mãe voltou pra casa della e nós ficamos juntos com ella. Eu continuei trabalhando nas minhas lavouras no Mundo Novo. Só ia em casa nos sábados e voltava segunda feira. Quando a Cleida nasceu eu estava no Mundo Novo arando terra. Deixei a Maria Muda lá em casa. Mandaram o Antonio Martins me chamar. Eu vim, cheguei e a comadre Zica estava dando o chá de canela para ella. Só fiquei em casa uma semana e voltei para trabalhar. Eu arava muito com arado de boi. Plantava muito. A Cleida nasceu em 10 de outubro de 1950. Quando a Cleri nasceu eu estava em casa. Busquei a Maria Muda no Mato das Antas, na fazenda do Geraldo Mizael em 1952, janeiro.
O Trabalho Duro nos Cafezais
Minha mãe trabalhava muito. Socava arroz na mão...a mão de pilão até limpar o arroz para tratar de camarada. Meu pai tinha muito camarada. Iam da Jacutinga e de outros lugares, pousavam, ficavam em casa a semana inteira. Meu pae tratava bem, dava tira-jejum, ia almoço no serviço e janta também. De noite tinha merenda, quando não tinha quitanda dava leite fervido com doce. Quando era tempo de panha de café, minha mãe ia para o cafezal. Os crioulos dos Olhos d´Agua e outros ficavam em um ranchinho. A parede era de pau raxado. Nos sábados ia ella e uma camarada lavar a roupa e arrumar mantimentos para a semana seguinte. Meu pae puxava o café no sábado e eu ficava com elle em casa. Em dez de agosto de mil novecentos e cinqüenta e trez nasceu a Nini. Eu estava em casa. Em maio de mil novecentos e cinqüenta e cinco nasceu o Warlei. Com um ano e seis meses elle morreu. Em mil novecentos e cinqüenta e seis nasceu o Nero. Em dezembro. Em fevereiro de mil novecentos e cinqüenta e sete morreu minha mãe (no dia dois). Eu fui criado no lugar mais isolado do município de Guapé, o Mundo Novo. Quando morria gente lá, chamavam o carapina para fazer o caixão, as costureiras para fazer as roupas. Adulto enterrava com roupa preta. Quase ninguém tinha roupa suficiente. Iam em Guapé buscar. Elles falavam buscar mortalha. Trazia os enfeites para o caixão, enfeitavam com taxinhas douradas. No caixão pegava um na frente e outra atrás. No caminho elles trocavam, cada um carregava um pouco. Trazia para Guapé porque não tinha cemitério. Tinha gente que inchava os ombros. Tinha uns mais sabidos que falavam para o defunto...nós vamos te cortar na faca, tem dó de seus irmãos...
Cenas do Mundo Novo
Lá no Mundo Novo quando uma pessoa calçava (colocar sapatos) eles perguntavam: está tomando remédio? Ninguém usava calçados. Nem homem nem mulher. Fizeram uma igreja nova e meu pae deu toda a madeira: travamento, caibro, ripa, portal. O piso era de cimento. A igreja pronta, o Padre João pediu ao meu pae um cruzeiro para fincar perto da porta da Igreja. Meu pae estava desanimado. Eu e o João Lau fizemos o cruzeiro fincamos perto da porta da igreja, onde o padre tinha mandado. Nos sábados e domingos tinha reza na igreja e o pessoal se reunia em movimento. Um dia duas mulheres pegaram de briga. A Miquelina e a Maria Muda. A Miquelina rasgou toda a roupa da Maria Muda. Foi preciso enrolar uma coberta nela para ella ir embora.

A Pitoresca Família do Manuel Bernardes
Lá no Mundo Novo nem os irmãos não combinavam uns com os outros. O Lindolfo com o Manuel Bernardes compraram umas terras em comum. Dividiram e a divisa passava em um pau de jatobá, que tinha na beira do rio. Este pau era grosso, se serrasse elle daria muita madeira. O Lindolfo queria pregar o arame do lado do Manuel Bernardes. Para ficar sendo o dono do pau, o Manuel Bernardes queria o mesmo. Brigaram e mandaram chamar o José Bernardes na Pedra Branca. Era o irmão mais velho. Elle veio e disse: o pau pertence aos dois, chama um carapina, passa quatro buracos no pau e passa o arame. Assim fizeram e fez a divisa. No Mundo Novo não tinha vendas. Os fazendeiros é que forneciam alimentos aos pobres e elles pagavam com serviço. Iluminava as casas com lamparina de querosene. Elles não conheciam o que era luz elétrica. Um dia tinha um camarada com um filho doente e não tinha querosene para iluminar a noite. Foi na casa do Manuel Bernardes comprar meia garrafa de querosene. O Manuel Bernardes disse: eu não tenho querosene para vender, só se você me der tres dias e meio de serviço para pagar o querosene. O camarada disse está caro mas preciso e levou. Trabalhou os treis dias e meio para pagar o querosene. Este camarada chamava José Luiz. O Manuel Bernardes criou uma família grande lá no Mundo Novo. A mulher delle Maria Vitória começou a engordar muito e os cavalos não estavam agüentando ella e aí elle comprou uma mula. Um dia a mula caiu com ella. Ella se machucou muito. O Manuel Bernardes falou: ella não vai mais em Guapé a cavalo. O dia della ir vai de carro de boi. Elles iam toda primeira sexta feira do mez. Assim fez. Pôs a mulher no carro de boi. O carreiro chamava Miguel Felipe e era preto. Na descida do morro do Guapé, elle tombou o carro, uma caixa rolou em cima della e machucou ella muito. O Manuel Bernardes disse: vou mudar pra Guapé. Aí comprou uma casa em Guapé, perto da conferência. Esta casa, a privada della era na horta. Tinha um buraco e um caixote por cima para a pessoa se sentar. E a mulher muito pesada, o caixote quebrou e ella caiu dentro do buraco e ella atolou até o pescoço. O Manuel Bernardes saiu na rua procurando gente para tirar ella. Precisou de cinco homens para tirar. Os pescadores pediam ella pra rançar minhoca em um brejo que ella tinha no fundo da horta. Ella cobrava.
A Historia dramática do Porto que não aconteceu
Meu pai sofria muito no Mundo Novo, quando nós éramos todos pequenos. Uma família dos Modestos tentava fazer um porto no fundo da horta de meu pae. Elle enfrentou. Esta família era grande. O velho chamava Joaquim Modesto e a mulher Candinha. Este pessoal reunia no barranco do rio para atravessar. Minha mãe pegava um pau, o tio Artur também, este era irmão da minha mãe. Elle era cego de um olho. Elle pegava outro pau e ia para a beira do rio enfrentar o pessoal. Meu tio Gustavo pode vir. E elles recuavam. Elles xingavam mas iam embora. Depois voltavam do mesmo jeito. E meu pae nesta luta. O tio Mizael mandou levar uma carabina com muita bala para o meu pae. O tio Evaristo era contra. Um dia um vizinho delles soube que elles vinham dar ronda na casa do meu pae, à noite. Elle veio avisar meu pae (minha mãe que contava). Meu pae e o tio Artur foram pousar no paiol. Com a carabina no colo um dormia e o outro ficava acordado. Se elles rodeassem a casa mandavam bala. Minha mãe lá dentro de casa com todos nós pequenos. A casa tinha buraco na parede, minha mãe tapava com pano. Elles pousaram muitas noites mas elles não vieram. Elles... A comissão de Guapé com o tio Evaristo, junto com o Nico Silva, o Cassiano do Milico e o Estandear(sic). Elles eram três. A comissão deu para fazer o porto. Elles começaram a dar palpites, que fariam a estrada por um lado, pelo outro lado. Meu pae falou: esta estrada passa no rabo de vocês! Eu não deixo fazer porto no fundo da minha horta.
A Mudança para Pihumy
Foi em Pyhumi arrumar um advogado. Elle falou para meu pae: eu garanto a causa. O senhor sai de lá um ano e se elles invadirem eu processo elles. Meu pai contou para o tio Frederico. Elle falou: cumpadre Lau, nós trocamos as casas. Nós vamos morar na sua casa e vocês vem morar na nossa, aqui na cidade. Meu pae concordou. Nós fazemos a mudança só de roupa, a nossa e a de vocês também. Meu pae com o tio Frederico combinavam muito. Quando minha mãe não esperava, chegou a mudança com a família do tio Frederico. A tia Maria chegou brincando com minha mãe. Assim ella contava. Arrumou a mudança, de noite fez a quitanda. A mudança veio carregada no animal. O mesmo animal levou a nossa mudança. Moramos com as casas trocadas um ano. Isto foi em 1920, porque o Mario nasceu em Pihumy, em fevereiro de 1920, quando morava lá. A casa do tio tinha uma escada alta, eu me lembrava. Minha mãe dava umas garruchinhas de rebentar espuleta de papel. Eu sentava na porta com a garruchinha e ella perguntava o que eu estava fazendo, eu falava: eu quero matar os soldados. Quando venceu um ano nós voltamos para a nossa casa. O pessoal já tinha “dizinerado” do porto. Já estava vendendo as fazendas delles para comprar outras fazendas em Goiás. Compraram muito animal, levaram a mudança nos cargueiros. Fizeram jacá de taquara. Cada cavalo levava dois jacás. Cada jacá duas crianças. Levaram dois camaradas, o José Lourindo e o Manuel Pinto ...ilegivel..Levavam mais de um mês viajando. Nos dias de sábados elles falhavam para lavar a roupa. Compraram muita fazenda em Goiaz, mas esta família foi derrotada(sic?). Negócio de porco na roça mataram o velho Joaquim Modesto e a mulher Candinha tomou um tiro no braço, quebrou e foi preciso cortar. O filho delle, José mataram no caminho da roça. O João Candinho, deram um tiro no olho delle dentro de casa, pelo buraco da parede ....continua....dez08

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