O arraial era só da Rua Araúna para baixo. Acima era tudo mato. Havia umas casinhas no meio do mato e tinha que pegar o trilho para chegar até elas, onde o pessoal pousava.
Não tinha açougue. Eles falavam em corte de vaca. Era junto com a venda. O esteio de amarrar as vacas era na rua. O pessoal vinha ver matar as vacas, tirar o couro, que era espichado com vara de bambu. Os cachorros juntavam para lamber o sangue. Eles picavam a vaca e vendiam um pouco. Punham em um tabuleiro, saiam vendendo pra rua. O resto que sobrava, salgavam e secavam porque não tinha geladeira.
Minha mãe levava nós sempre nas festas do Congo e do Moçambique e na Semana Santa.
Meu pae tinha três camaradas que moravam conosco, um chamava Bernardo, o outro Ernestino e o outro Sebastião Mariano. Todos os três solteiros. Quando a gente ia nas festas, eles iam também, ficavam na casa da minha avó. Nós meninos, andávamos com os camaradas. Os meninos do arraial batiam nos meninos da roça.
Quando veio o primeiro carro, a gasolina era do Otavio da Duca. Um Fordinho de mola de Aço, pneu fino. Elles cobravam pra dar voltas. Os camaradas do meu pae arrumavam namoradas e pagavam pra dar voltas nos carros, no largo(na praça). Custava seiscentos réis. Entravam com a namorada no carro. Eu entrei também . Saia um, entrava outro. Aí eu fiquei. Entrou o terceiro. Fiquei dando muitas voltas no carro. Gostei muito. Quando eu fui pra roça, só ficava falando no carro: como ele fazia, como ele balangava muito, quando tinha gente na rua, ele fazia piu piu. A rua era escura, só iluminavam os faróis do carro.
No fundo do arraial tinha um ribeirão. O pessoal que vinha da Jacutinga, do Pontal, do Mundo Novo, da Pedra Branca passava dentro d´água. Quando trazia defunto no “bangüê”, o bangüê (de origem africana – observação do Law) era um pau amarrado por cima do caixão, pegava um na frente e outro atrás, quando atravessava o ribeirão e depois pegava em quatro pessoas para andar na rua.
Minha avó buscava paus para fazer lenha. Perto do cemitério morava meu tio(tio???), ele plantava abacaxi e colhia muito. Ele vendia e ficou com o apelido de Zé Abacaxi. Na horta ele tinha uma cova de bananeira nanica. Nesta bananeira deu um caxo muito grande, quando amadureceu. Ele cortou o caxo de banana e pôs na sala e abriu uma venda. Veio um homem comprou banana e gostou muito e falou pra ele contar as bananas. Eu vou levar tudo, ele falou. Elle disse: não posso vender tudo. Tinha que servir a freguesia.
O segundo carro quem comprou foi o Dr. Sano. Carro moderno. E fez a linha para o Capão Quente. Essa linha descia para os Penas até a ponte do rio Sapucaí, para ir pra Passos. Quem vinha de Passos para Guapé tinha que passar no Capão Quente. Esta linha foi feita toda no picarete. Antes o Dr. Sano andava de cavalo.
O terceiro carro quem comprou foi um fazendeiro das Posses, José Pereira. Era um fordinho de mola de aço e pneu fino. O homem que vendeu pra elle ensinou a dirigir. E levou o carro lá nos Penas, pela estrada de carro de boi. E elle todo dia treinava. Amarrava as porteiras do curral. E fazia todas as manobras mas não aprendia a frear. Um dia elle viu que estava bom no volante e elle mandou os camaradas subir nos estribos, um de um lado e o outro do outro lado e saiu pela estrada. Deu num lançante abaixo e elle não sabia frear e o carro pegou embalo. Os camaradas pularam fora. Elle parou numa cerca de arame e afundou num brejo e apagou. Elle saiu do brejo e disse que precisava de uma manivela. Foi preciso pagar para tirar o carro do brejo. FIM
((Em que data foi esta ultima anotação? – Não sei. O Papai anotou no alto dessa agenda a pagina “65”. O que sei é que tudo isso foi no ano 2000, o ano em que o papai nos deixou, o que acconteceu às 13h45 do triste dia 6.12.2000.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário